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Não podemos deixar um filmezinho nos abalar

Rasheed Abou-Alsamh
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Rasheed Abou-Alsamh
October 3, 2012
March 16, 2022
Manifestantes rasgam a bandeira americana na embaixada dos Estados Unidos em Cairo no dia 11 de setembro, 2012. (Foto AFP)
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Não podemos deixar um filmezinho nos abalar

Manifestantes rasgam a bandeira americana na embaixada dos Estados Unidos em Cairo no dia 11 de setembro, 2012. (Foto AFP)

Essa e minha coluna que foi publicada no O Globo no 21/09/2012

Rasheed Abou-Alsamh

Assisti ao trailer do filme “A inocência dos muçulmanos” na internet e não fiquei horrorizado como um muçulmano, mas enojado com o diálogo podre e a atuação péssima dos atores. Parecia um sketch de comédia do Monty Python, mais do que qualquer outra coisa, e com o único intuito de zombar de crenças religiosas e provocar reações violentas.

Infelizmente esse ataque contra o profeta Maomé e o Islã teve repercussões fatais no mundo islâmico inteiro — o mais dramático foi o assalto no dia 11 de setembro ao consulado dos EUA em Benghazi, na Líbia, onde o embaixador americano Chris Stevens, três funcionários americanos e pelo menos dez guardas líbios morreram asfixiados pela espessa fumaça que se alastrou no prédio depois que os assaltantes extremistas atearam fogo nele.

No mesmo dia, manifestantes no Cairo atacaram a embaixada americana e escalaram o muro do complexo, gritando slogans antiamericanos e rasgando a bandeira americana. Tudo porque relatos iniciais tinham afirmado que o filme tinha sido produzido por um americano-israelense morando na Califórnia. Dias depois ficamos sabendo que o produtor era na verdade um homem de origem egípcia e copta, chamado Nakoula Basseley Nakoula, de 55 anos, com uma condenação criminosa e algum tempo em cana por fraude bancária. A polícia americana levou Nakoula para uma delegacia para averiguar se ele tinha violado os termos de sua liberdade condicional, fazendo e postando o filme dele na internet, já que ele estava proibido de usar computadores e a rede.

Nos dias seguintes, manifestações violentas contra missões diplomáticas americanas e de outros países ocidentais se alastraram no mundo islâmico, com uma das mais furiosas ocorrendo em Sanaa, no Iêmen. O presidente americano Barack Obama e outros dirigentes americanos ficaram chocados e surpresos com os eventos. Alguns republicanos usaram a oportunidade para criticar os líbios e os egípcios como ingratos, dizendo que os EUA não mereciam isso depois que os americanos ajudaram a derrubar Muamar Kadafi e apoiaram — mesmo que tardiamente — a derrubada de Hosni Mubarak.

Mas o que mais chamou a atenção foi o despreparo do consulado americano em Benghazi, já que Stevens sabia muito bem que a situação de segurança na cidade ainda estava muito caótica por causa do grande número de milícias fortemente armadas que rodeavam a área.

Um oficial líbio entrevistado na BBC World no dia seguinte ao ataque deixou a apresentadora pasmada quando ele falou que a culpa era dos diplomatas americanos não terem tomado as necessárias precauções. Dias depois o presidente líbio, Mohamed Yousef al-Magariaf, confessou à CNN que o governo central não tinha pleno domínio sobre Benghazi.

Mais do que qualquer outra coisa, essa reação violenta ao filme deixou muitos muçulmanos perguntando por que não se podia haver uma lei proibindo blasfêmias no Ocidente, pois em vários países europeus é contra a lei negar a existência do Holocausto na Segunda Guerra Mundial.

Jamal Khashoggi, um comentarista saudita, me disse em entrevista que a maioria dos muçulmanos não vive em democracias de verdade, e por isso eles têm dificuldade em entender o conceito de liberdade de expressão, mesmo se certas proclamações ofendem as crenças de outras pessoas. “O líder da Tunísia declarou para seu povo que os EUA não podiam banir o filme. O presidente egípcio Mohamed Mursi e outros líderes deveriam fazer a mesma coisa, mesmo sob o risco de serem criticados como fantoches dos americanos. Precisamos de um padrão global contra a blasfêmia, mas isso é muito difícil”, ele disse.

Na visão de Khashoggi, esses ataques recentes são em parte culpa dos novos líderes dos países que tiveram suas primaveras árabes, por não querer ou não poder enfrentar os elementos extremistas tomando vantagem da fraqueza desses novos governantes. “Nossos políticos árabes estão repetindo o erro do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy ao se aproximarem dos extremistas na esperança de ganhar os votos deles ou para evitar seu mal”, ele escreveu no jornal “Al- Hayat”. “Em todo caso, os extremistas vão acabar mordendo a mão que lhes dá comida. É isso que fizeram para Mursi na terça-feira passada e com outros líderes árabes que pensavam que podiam ‘dançar com os lobos’.”

A jornalista saudita Hasnaa Mokhtar me disse, por e-mail, que os apelos para banir ofensas contra o Islã e o profeta Maomé eram desnecessários, já que a religião já sobreviveu a ataques por centenas de anos. “O homem que carregou o fardo da mensagem foi combatido, atacado, ridicularizado, torturado e passou por dificuldades graves 1.433 anos atrás”, ela disse, se referindo a Maomé. “Não importa o quão opressiva ou ofensiva qualquer situação dada é, o Islã deve sempre significar tolerância e paz, e nada mais.”

Os Estados Unidos agora têm a difícil, mas essencial, tarefa de dar apoio aos novos governos democráticos árabes, especialmente para protegêlos dos extremistas que não querem ver o sucesso da liberdade. O caminho será longo e difícil, mas sempre foi assim. A morte do embaixador Stevens deve no mínimo dar ânimo aos árabes para lutar pelo sucesso de suas revoluções. Somente assim sua morte não terá sido em vão.

Rasheed Abou-Alsamh
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Arabia Saudita
Egito
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