Categories
Politics
Reflections
Arts & Culture
Consumer
HomeAboutContact

Subscribe for updates

Thank you! Your submission has been received!
Oops! Something went wrong while submitting the form.
HomeAboutContact
Politics
Reflections
Arts & Culture
Consumer
Twitterfacebooklinkedinemail
print

A trajetória trágica de Nimr al-Nimr

Rasheed Abou-Alsamh
By:
Rasheed Abou-Alsamh
January 8, 2016
March 16, 2022
Manifestantes xiitas enfrentam policiais sauditas na cidade de Qatif em 2011. (Foto Reuters)
A trajetória trágica de Nimr al-Nimr
Share this:
Twitterfacebooklinkedinemail
print

A trajetória trágica de Nimr al-Nimr

Manifestantes xiitas enfrentam policiais sauditas na cidade de Qatif em 2011. (Foto Reuters)

Essa coluna foi publicada no O Globo de 08/01/2016:

Ele não reconhecia o governo saudita e nem a soberania do rei. Para uma monarquia absoluta, isso foi um desafio inaceitável

Por Rasheed Abou-Alsamh

O vilarejo de Awammiya fica a poucos quilômetros da cidade de Qatif, reduto dos xiitas na Arábia Saudita. Fui lá em janeiro de 2007 com outros jornalistas para testemunhar a data religiosa de Ashura e para entrevistar xiitas sauditas, de estudantes a empresários, e até seus líderes religiosos.

Ficamos agradavelmente surpresos porque as autoridades sauditas deram permissão aos xiitas para marcarem publicamente essa data muito importante na sua História: é lembrado, no décimo dia do mês islâmico de muharram, a morte de Hussein Ibn Ali, neto do profeta Maomé, na Batalha de Karbala, no ano 61 do calendário islâmico (680 A.D.). Essa batalha é considerada o momento em que a vertente do xiismo nasceu, dividindo os muçulmanos entre os sunitas e xiitas. Faixas pretas enormes enfeitavam as ruas de Qatif, com lamentações para Hussein, e os mais fervorosos devotos desfilavam se batendo e chorando. Os policiais sauditas ficaram observando de longe e nunca interferiram nos ritos religiosos.

Isso era um avanço para os xiitas sauditas, que sofriam há anos com as tensões sectárias vindas de alguns sauditas sunitas, que não aceitam os xiitas como verdadeiros muçulmanos. Em 1980, uma procissão de xiitas em Qatif foi dispersada violentamente pelas forças de segurança sauditas, levando à morte de 27 deles. O contraste entre aquela época e o que estávamos vendo em 2007 não podia ser maior.

Mas, mesmo naquela época, nós vimos uma comunidade xiita em Qatif e vilarejos adjacentes rachada por razões econômicas. De um lado, estava Jafar al-Shayeb, um empresário bem-sucedido, que foi eleito para o Conselho Municipal de Qatif em 2005. Ele nos disse que as demandas dos xiitas sauditas eram domésticas, pedindo mais direitos civis e religiosos, e que não eram ligadas às tensões regionais causadas pela guerra civil no Iraque e entre os EUA e o Irã. “Nós queremos poder servir como ministro de Estado, nos inscrever no serviço militar, representar o reino no exterior como diplomatas, construir nossas mesquitas e imprimir nossos livros religiosos,” disse-nos Shayeb. “Nós estamos superando problemas sectários. Há um entendimento melhor entre os xiitas e o governo.”

Em contraste, quando fomos entrevistar o xeque Nimr al-Nimr em Awamiyya, o tom era bem diferente e desafiador. Percebia-se logo que Nimr era pobre e morava numa área carente. Sem sucesso econômico para abrandar seus sentimentos, Nimr nos disse que “o governo não vai nos dar nossos direitos, o povo vai ter que lutar por eles. Se as pessoas lutam pelos seus direitos, elas têm que esperar pagar o preço por isso, sendo presos e perdendo seus empregos.”

Xeque Nimr nos disse que não podia promover as leituras religiosas (chamadas de Husseiniyas) diariamente em salas grandes durante o Ashura porque não tinha acesso a um prédio com salas para isso. Em contraste, o xeque Hassan al-Saffar fazia Husseiniyas diariamente em um prédio novo de três andares em Tarout, que pertencia a uma família local.

O radicalismo de Nimr seguiu forte, e nos anos seguintes ele continuou a criticar o governo saudita em discursos e sermões. Chegou a dizer que não reconhecia o governo saudita e nem a soberania do rei. Para uma monarquia absoluta, isso foi um desafio inaceitável.

Com o começo da Primavera Árabe, em 2011, jovens xiitas em Qatif começaram a organizar protestos contra o governo, exigindo mais direitos. Alguns desses protestos se tornaram violentos quando forças de segurança usaram gás lacrimogêneo para tentar dispersar os manifestantes. Um grupo pequeno de jovens xiitas, a maioria desempregada e desesperada, jogou pedras contra as viaturas da polícia, e depois coquetéis molotov. Alguns usaram armas de fogo contra policiais, ferindo uns e matando outros. Com isso, o governo divulgou uma lista dos 23 mais procurados xiitas, apelando para que eles se entregassem às autoridades ou seriam caçados e presos. Alguns se entregaram, outros foram presos e mais outros foram mortos tentando fugir da policia ao resistir à prisão.

O xeque Nimr foi preso em julho de 2012 e acusado de “desobediência ao governante,” “incitar a luta sectária” e “encorajar, liderar e participar de manifestações.” O seu julgamento começou em 2013, e ele teve mais de 70 sessões em frente ao juiz com seu advogado. Em todas as sessões, Nimr se recusou a aceitar a legitimidade do governo saudita. Em outubro de 2014, foi condenado à morte por “busca de ingerência estrangeira no reino,” por “desobediência aos seus governantes e por pegar em armas contra as forças de segurança.”

É nesse último ponto que há divergência de opiniões sobre se o xeque Nimr usou ou aprovou o uso de violência contra as forças de segurança. Algumas fontes sauditas dizem que Nimr, antes de ser preso, foi visto em manifestações com jovens que lançaram objetos incendiários e também num carro com jovens que atiraram em policiais. Em todo caso, boa parte da população saudita apoiou a execução dele e de 45 outros membros da al-Qaeda, todos sunitas, que também foram executados dia 2 de janeiro, por terem participado de ataques terroristas no país.

Com isso, o Irã está usando a execução de Nimr para atacar violentamente a Arábia Saudita e seus dirigentes. O ataque à embaixada saudita em Teerã na madrugada de 3 de janeiro foi o ato que levou a Arábia Saudita a cortar relações diplomáticas com o Irã.

Eu não acho que uma guerra vá irromper entre os dois rivais do Golfo. Há coisas demais em jogo e, se os iranianos atacarem a Arábia Saudita, os EUA seriam forçados a intervir a favor dos sauditas. Mas é bom saber como e por que a morte de xeque Nimr está levando o Oriente Médio à beira de uma catástrofe.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/a-trajetoria-tragica-de-nimr-al-nimr-18431442#ixzz3wkzSXe7U

Rasheed Abou-Alsamh
By:
Rasheed Abou-Alsamh
Tags:
Arabia Saudita
Portuguese Posts
Xiitas
Share this:
Twitterfacebooklinkedinemail
print

Comments

Be the first to leave a comment!

Leave a comment

Name
Comment
Your comment has been submitted! Refresh your page, it will appear shortly.
Oops! Something went wrong while submitting the form. Try again!

Other posts

·
Latest Posts
·
Latest Posts
·
Latest Posts
·
Latest Posts
·
Latest Posts
·
Latest Posts
·
Latest Posts
·
Latest Posts
·
Latest Posts
·
Latest Posts
·
Latest Posts
·
Latest Posts
·
Latest Posts
·
Latest Posts
·
Latest Posts
·
Grainy second skins
April 20, 2022
April 20, 2022

Grainy second skins

By:
Rasheed Abou-Alsamh
How the West provoked Putin’s invasion
Politics
March 30, 2022
March 30, 2022

How the West provoked Putin’s invasion

By:
Rasheed Abou-Alsamh
To DST or not, that is the question
Politics
March 21, 2022
March 21, 2022

To DST or not, that is the question

By:
Rasheed Abou-Alsamh
Don't wait to enjoy time with your loved ones
Reflections
March 1, 2022
March 19, 2022

Don't wait to enjoy time with your loved ones

By:
Rasheed Abou-Alsamh
Previous
Next
3 / 71
January 31, 2012
March 16, 2022

The culture shock of being a domestic helper in Arabia

By:
Rasheed Abou-Alsamh
January 31, 2012
March 16, 2022

O choque cultural de ser uma doméstica na Arábia

By:
Rasheed Abou-Alsamh
Politics
December 20, 2011
March 16, 2022

As sauditas vão poder votar antes de dirigir: O Globo

By:
Rasheed Abou-Alsamh
Politics
December 4, 2011
March 16, 2022

A Primavera Árabe esta longe de terminar: meu artigo no O Globo

By:
Rasheed Abou-Alsamh
Previous
Next
2 / 85
RW Logo
HomeAboutContact
Categories
Politics
Reflections
Arts & Culture
Consumer
Subscribe for updates
Thank you! Your submission has been received!
Oops! Something went wrong while submitting the form.

© Rasheed's World 2021. All rights reserved.

Site by